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Rodas de leitura: formação de leitores e multiplicadores entre adolescentes

São Paulo

Secretaria de Saúde - Programa Do Adolescente

Resumo

Ler é bom. Quem lê sabe disso.
Acontece um movimento dentro da gente, de pensamentos, de uma conversa que começa guardada, com a gente mesmo, e que depois poderá saltar para o mundo e trazer do mundo algo novo para a gente. Gente.
E quando lemos juntos, ali naquele momento com o outro, quando eu leio e o outro lê, quando nos escutamos e falamos, as pessoas parecem ficar mais de perto, e mais de perto nós também vamos ficando. Ler é bem humano. Ler é um bem humano.

Antonio Candido, chama atenção para que entendamos a leitura como um direito:
...afirmam que o próximo tem direito, sem dúvida, a certos bens fundamentais, como casa, comida, instrução, saúde, coisas que ninguém bem formado admite hoje em dia que sejam privilégios de minorias, como são no Brasil. Mas será que pensam que o seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievsky ou ouvir os quartetos de Beethoven? Apesar de boas intenções no outro setor, talvez isto não lhes passe pela cabeça. E não por mal, mas somente porque quando arrolam os seus direitos não estendem todos eles ao semelhante. Ora, o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos. (Antonio Candido, Direito à Literatura in Vários Escritos. Ed. Duas Cidades/Ouro Sobre Azul. SP/RJ. 2004, pág. 172).

Objetivos
O projeto “Rodas de leitura - formação de leitores e mediadores de leitura” pretende, através de seus encontros, estimular a formação de leitores críticos revelando a Literatura como um direito humano a ser preservado, contribuindo na ampliação de visões de mundo e propiciando aos adolescentes acessarem suas próprias questões num espaço de acolhimento e segurança.
Além dos benefícios evidentes que a leitura oferece, no que diz respeito ao conhecimento, comunicação, enriquecimento no uso do idioma, ela também atua em nossas necessidades lúdicas e de imaginação, o que contribui significativamente na reconstrução e reparação psíquica, tão necessárias à essa população adolescente em meio a pandemia do coronavírus.
Trata-se da possibilidade de fortalecimento de nossa relação de trocas com o mundo, o que nos constitui como sujeitos históricos, e do reconhecimento de afetos e possibilidades humanas que são de todos nós. Esse é nosso interesse fundamental nas rodas de leitura com os/as adolescentes. A Literatura como um direito humano, as rodas de leitura como uma atividade voltada para a saúde.

Metodologia
Uma pessoa coordena a atividade e convida os participantes a lerem, sem imposição, com comentários sobre o autor, às vezes contexto de época etc. É fundamental que todos se sintam seguros para falar e percebam a importância de ouvir. Dessa forma, quando os textos são trazidos pelos próprios jovens eles mesmos podem assumir esse lugar de coordenação da roda.
Faremos atividades de leitura estimulando a participação dos adolescentes atendidos pela Casa, podendo cada roda, seguindo os protocolos de segurança, ter a participação de até 13 adolescente e dois mediadores de leitura mais experientes, sendo que um mediador conduzirá a roda enquanto o outro estará mais voltado para a observação do grupo.
Cada um dos participantes terá um livro para acompanhar a leitura. De início escolheremos contos curtos, crônicas, poemas e letras de música. Depois leremos capítulos de um romance, para que eles continuem a leitura em suas casas.
Os livros adquiridos serão usados por todos os adolescentes que participarem dos encontros. No final, os formados como mediadores de leitura que se interessarem em realizar projetos de leitura comunitários, ou que indicarem experiências relacionadas ao livro em suas regiões, receberão parte de nosso acervo como doação. Ao todo planejamos doar 80% dos livros adquiridos durante nosso projeto.

Resultados esperados
•Formaremos 8 estudantes para que possam atuar em rodas de leitura com adolescentes.
•Destinaremos horários diários para a formação e inclusão dos adolescentes, ampliando nossa Biblioteca e facilitando seu acesso para todos. Além disso retomaremos aos poucos nossos encontros culturais (Saraus).
•Faremos com que ao menos 1000 adolescentes, no período de 12 meses, tenham a experiência em encontros de leitura, além dos 50 adolescentes bolsistas.
•Dos adolescentes bolsistas, 25 serão imigrantes falantes do idioma espanhol, que assim terão a oportunidade de um enriquecimento do idioma português, na cultura brasileira e dos atendimentos oferecidos pela equipe multiprofissional da Casa do Adolescente de Pinheiros.

Fatores que favorecem os resultados esperados
Atualmente essa unidade tem mais de 40 mil adolescentes matriculados, com um fluxo diário em torno dos 50 atendimentos. A Casa está localizada na Rua Ferreira Araújo, 789, Pinheiros, de fácil acesso para os adolescentes pela proximidade do Terminal de ônibus Pinheiros, metrôs e estação de trem. Nela recebemos adolescentes até mesmo de cidades como Osasco, Carapicuíba e outras, por essa facilidade de transporte.
A formação dos mediadores selecionados será durante toda a execução do projeto. Ela tem início na segunda quinzena do primeiro mês, depois da seleção que faremos. Nessa quinzena faremos uma imersão de 30 horas em leituras e organização dos primeiros textos a serem lidos. Teremos a presença de escritores e mediadores de leitura experientes que serão convidados a participar conosco dessas primeiras rodas formativas. No segundo mês iniciaremos os trabalhos com todos os adolescentes atendidos pela Casa, selecionando, dentre eles, 25 que seguirão como bolsistas, e mais 20 bolsistas imigrantes cujo idioma seja o espanhol. Para a inserção de bolsistas imigrantes no projeto contaremos com o apoio da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo.

Experiência

Desde sua origem o Programa Saúde do Adolescente dá especial atenção aos encontros de acolhimento chamados rodas de conversa. A origem dessa experiência com as rodas remonta à criação da primeira clínica de atendimento ginecológico infantopuberal, em 1971, no Ambulatório de Ginecologia do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo. Como relata Dra. Albertina Duarte Takiuti, no seu livro Utopia?, era preciso assistir às mulheres para além de um atendimento clinico imediato. As rodas eram oportunidades de se falar sobre autocuidado, vida sexual e afetiva, e trazer ênfase na prevenção de doenças e de uma gravidez indesejada. Eram cuidados que possibilitavam maior protagonismo das mulheres nas próprias vidas, com o reconhecimento de potências e auto-autorização em suas escolhas. Nessa nova dinâmica de atendimento a sala de espera da clínica ginecológica ganhava a dimensão de um lugar privilegiado de tratamento e cuidado, com orientações sexuais, atenções preventivas, apoio psicológico e trocas dialógicas nos grupos que se formavam.
Essa experiência, originada primeiro nos atendimentos às mulheres, se estendeu ao Programa Saúde do Adolescente, e permanece até hoje fecundando todas nossas atividades integrativas grupais. E lá se vão três décadas, nesse ano de 2021, em que o Programa Saúde do Adolescente completa seus 34 anos de vida.
Queremos lembrar também que todas as diferentes instâncias de atendimento do Programa comungam essa estratégia, em que espaços e relações são ainda mais humanizados nas rodas de encontro e nos atendimentos multiprofissionais.

As rodas de leitura são experiências já consagradas. Servindo, por exemplo, ao nosso direito humano à literatura, como explicou o professor Antônio Cândido ao dizer que a ficção e nossa condição humana de fabuladores constituem os sujeitos que somos ou que seremos. E também servindo para os cuidados com a saúde. Conhecemos relatos variados de círculos de leitura, notadamente ativos em regiões de conflito armado e/ou de intensas crises sociais, que referem essa experiência de reconstituição e reparação psíquica de indivíduos submetidos a perdas, estados depressivos e de intensa ansiedade, paralisantes. Recentemente no Brasil, temos notícia também dos chamados grupos de biblioterapia.
Com segurança podemos afirmar que uma percepção comum a quem se dedica implementar círculos de leitores é a dessa eficácia recuperativa da imaginação e de fabulação, componentes essenciais na formação dos sujeitos que somos e poderemos vir a ser.
Começamos as rodas de leitura na Casa do Adolescente do M’Boi Mirim, Jd. Angela, região sul de São Paulo. A gratuidade do atendimento e a oferta do nosso serviço multiprofissional (médicos, psicólogos, naturológos e sociólogo), possibilitou a atração das meninas e meninos para atividades coletivas, como as rodas de conversas e de leituras. Essas atividades grupais, de interação e sociabilização, fortalecem vínculos e enriquecem as trocas de experiências, facilitando a emergência das dificuldades de comunicação a serem trabalhadas. Também realizamos rodas de leitura no Terça Rosa do Ambulatório da Saúde da Mulher do Hospital Pérola Byington, que atende adolescentes mulheres de todos os munícipios de São Paulo; também com os profissionais do Programa que lá atuam. E agora temos feito esse trabalho na Casa do adolescente de Pinheiros, onde numa pequena biblioteca os adolescentes retiram livros para, se quiserem, lê-los em casa, já que nesse período de pandemia saem menos de casa. É uma maneira que encontramos para que continuem o envolvimento com as leituras, diminuindo o tempo que passam em telas de computadores e celulares. A unidade de Pinheiros tem uma interessante experiência de encontros de adolescentes e jovens voltada para a saúde e cultura, são as chamadas Baladas da Sáude. Nelas, oficinas de nutrição, saraus literomusicais, encontros terapêuticos de grupos LGBTQIA+ (Grupo Caus de quê), propiciaram aos adolescentes vivências importantes de pertencimento. Assim que as Baladas retornarem, pois foram suspensas devido ao grande número de participantes, os grupos de rodas de leitura também participarão de momento.
É nessa unidade do Programa Saúde do Adolescente, A Casa do Adolescente de Pinheiros, o local onde realizaremos o projeto Rodas de leitura- formação de leitores e multiplicadores de leitura
O que norteia nosso trabalho, repetimos, é acreditarmos na Literatura como um direito humano e a leitura como uma atividade que contribui para a saúde das pessoas, principalmente nesse espaço privilegiado de escuta e acolhimento que são o dos encontros com esse público adolescente.

Público Alvo

Nossas rodas de leitura acontecem com adolescentes que, na sua maioria, estão ou estiveram em situação de vulnerabilidade social, muitas vezes desassistidos em seus direitos básicos, com vínculos familiares abalados por carências sociais e econômicas.
As rodas acontecem em média com 10 a 15 participantes. De início escolhemos os autores com os quais estamos mais familiarizados e optamos por textos curtos. Provocamos os adolescentes a trazerem o que leem ou gostariam de ler. Acontece, muitas vezes de modo espontâneo, que os adolescentes tragam para o grupo obras de seus interesses, como letras de músicos do rap, canções de seus repertórios familiares e de grupos de convivência, como também poesias de artistas locais.
Uma pessoa coordena a atividade e convida os participantes a lerem, sem imposição, com comentários sobre o autor, às vezes contexto de época etc. É fundamental que todos se sintam seguros para falar e percebam a importância de ouvir. Dessa forma, quando os textos são trazidos pelos próprios jovens eles mesmos podem assumir esse lugar de coordenação da roda.
Com a pandemia observamos nos atendimentos presenciais e outros online as queixas dos adolescentes sobre essa nova realidade. A perda da sociabilidade, da camaradagem dos encontros e namoros, dos reconhecimentos mútuos, os deixaram mais ansiosos, por vezes depressivos, aumentando muitíssimo o uso dos computadores e celulares. Constatamos inclusive que muitos se tornaram mais distantes de seus familiares. Quando retomamos nossos encontros, rodas de conversa e leitura, com essa metodologia integrativa típicas dessas atividades de troca, os adolescentes puderam falar desse período duro e inusitado, aos poucos retomando planos e construindo metas em direção aos estudos e trabalho, assim como aos autocuidados preconizados pelo Programa Saúde do Adolescente. Esses jovens, ao mesmo tempo, tem o forte desejo de pertencimento e identificação com o outro, o que um espaço de acolhimento criado pelas rodas de leitura pode comtemplar. Além disso, com a possibilidade de tornarem-se multiplicadores de leitura poderemos apoiá-los em projetos em suas regiões, com doações de livros e assessorias segundo nossas capacidades (orientação jurídica se necessária, apoio à construção de redes sociais de divulgação).
A idade do público atendido será a mesma com a que temos trabalhado, sob a concepção de adolescência da Organização Mundial de Saúde, que recomenda as idades dos 10 a 24 anos.

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