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Qual a idade certa para ter redes sociais?

Redes sociais estão cada vez mais presentes no dia a dia de crianças e adolescentes. Elas conectam, entretêm e informam, mas também expõem os mais jovens a desafios que nem sempre estão prontos para enfrentar. Por isso fica a pergunta: existe uma idade adequada para começar a usar redes sociais?


Saúde mental dos adolescentes e dados no Brasil

Um estudo nacional conduzido com 74.589 adolescentes entre os anos de 2013-2014 — o Estudo ERICA — identificou que 30 % dos jovens apresentavam “transtornos mentais comuns” (como ansiedade ou depressão leve), número que era bem maior entre meninas (38,4 %) do que entre meninos (21,6 %). O estudo também mostrou que adolescentes de 15 a 17 anos tinham prevalência de 33,6 % desses transtornos, contra 26,7 % dos que tinham entre 12 a 14 anos. Além disso, outra pesquisa com crianças brasileiras de 6 a 12 anos, realizada em 2022, identificou que 13,5 % delas apresentavam níveis de ansiedade elevados segundo o instrumento CAQ. Esses dados não provam causalidade, ou seja, não mostram que redes sociais causam esses transtornos, mas evidenciam que a adolescência e a pré-adolescência são momentos críticos no desenvolvimento emocional.


Exposição irrestrita e acesso precoce

Outro ponto de preocupação é o tempo de tela, as comparações constantes, a exposição a conteúdos inadequados ou sem filtro e a pressão social vivida nas plataformas. Internacionalmente, países já estão agindo. Por exemplo, na França uma lei aprovada em 2023 exige que menores de 15 anos só possam criar contas em redes sociais com autorização dos pais ou responsáveis. Essas medidas reforçam que muitos governos veem a necessidade de estabelecer amparo legal para proteção dos jovens em ambiente digital.


Por que isso importa?

Quando uma criança ou adolescente entra nas redes muito cedo, antes de ter amadurecimento emocional ou apoiar-se em referências sólidas, há riscos: sensação de inadequação, comparação constante, ansiedade, e ainda exposição a conteúdos ou interações que não estavam preparados para filtrar. Se somarmos isso à vulnerabilidade da idade, como mostram os dados brasileiros, entendemos que não se trata apenas de “imaginar que conectados estão felizes” mas de observar que parte significativa dos jovens já enfrenta dificuldades emocionais.


E qual seria a idade certa?

Não existe um número exato que se aplique a todas as crianças. O que estudos e experiências internacionais sugerem é que adiar o acesso, impor supervisão e garantir que o uso ocorra em ambiente seguro fazem diferença. Baseado nas práticas internacionais, a faixa dos 15-16 anos ou mais costuma aparecer em propostas de regulação como nível mínimo de acesso mais protegido. A França, por exemplo, definiu 15 anos como faixa-mínima para registro sem autorização. No Brasil, embora ainda não haja regra federal que estabeleça idade mínima para uso de redes sociais, esse debate precisa avançar: famílias, escolas e nós do poder público temos papel essencial no cuidado.


Cuidar da infância também é cuidar do ambiente digital

Não dá para negar: redes sociais vão continuar fazendo parte da vida dos jovens. Mas precisamos garantir que essa vivência seja segura, acompanhada e respeite o ritmo de cada criança. O cuidado com a infância hoje inclui proteger o espaço digital, garantir que o acesso não aconteça antes da maturidade emocional, que haja presença dos adultos, que haja regulação das plataformas e que o foco seja no desenvolvimento, não apenas no entretenimento ou no engajamento. A tecnologia pode (e deve) ser aliada, mas não substitui o diálogo, a atenção, o limite e a proteção que cada criança merece.

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