Escola Peregrina: Ativar potencialidades para diminuir defasagens
Agudos
Prefeitura Municipal de Agudos
Resumo
O projeto começou com a iniciativa de uma Unidade Escolar do Município em (re)pensar o momento semanal de formação continuada de professores via HTPCs – Hora de Trabalho Pedagógica Coletiva, depois de terem vivenciado 12 encontros (de 24/08 a 30/11) no primeiro ano pandêmico em torno da proposta “Educando para o sentido: do “ser ao dever-ser”, da psicóloga Rosilene Maria Pinto. A experiência não só resultou na realização do “Família das Virtudes”, trabalhado pelos professores nos sábados letivos e em atividades extras em sala de aula como em algumas mudanças na maneira de olhar à educação e a própria ambiência escolar, reverberando em pesquisas para enfrentar as demandas e defasagens ecoadas em toda a comunidade escolar. Foi assim que nasceu o Escola Peregrina. O projeto socioeducacional decorre de uma série de modificações que a própria pandemia vem ocasionando no meio educacional e escolar. Entre as quais destacam-se:
1) Construir uma cultura de prevenção como uma das formas de minimizar os efeitos de crises como a pandêmica e seus desdobramentos socioculturais, econômicos e educacionais;
2) A educação pensada sob o viés da cultura de prevenção/ pedagogia do sentido mostra-se mais forte ou mais crucial em épocas de crise, porque a sociedade não é apenas um sistema mecânico de relações econômicas, políticas e sociais, mas um conjunto de relações interativas, tecida de afetos, emoções, sensações, de atrações e repulsões;
3) A pesquisa como elemento ajudador e transformador do fazer docente, capaz de favorecer a comunidade escolar porque pesquisar é perguntar, é incorporar-se ao desconhecido, é buscar domesticar a ignorância. Portanto, não nasce apenas do pensado, mas do sentido, do conhecimento vivenciado, do percebido;
4) A abertura ao novo envolve mudança de perspectiva, improvisação, novas possibilidades;
O problema em torno do ensino remoto emergencial e do ensino híbrido no contexto pandêmico talvez seja, metaforicamente, apenas mais um “parente” que se avizinhou ou resolveu se apresentar diante dos problemas de alfabetização que há muito cercam a nação. Conforme Sebastião Rocha, para além da questão econômica trata-se de um problema ético: “Não estamos conseguindo alcançar as metas, temos que mudar o foco. Como no provérbio africano, precisamos convocar a aldeia, juntando o que as pessoas tem de melhor e disponibilizando. É preciso descobrir causas que tenham sentido e aí zerar o déficit. O IDH mede as carências, mas as políticas públicas deveriam ser realizadas pelo Potencial de Desenvolvimento Humano (PDH)”. É esta nova perspectiva de olhar pessoas e comunidades através de suas potencialidades e não de suas carências, de suas faltas que norteia o Escola Peregrina.
Quanto à metodologia, há sete indicadores sociais que irão perfazer o planejamento para inserção dos educadores peregrinos nas comunidades, estas mapeadas anteriormente nos prontuários das escolas: as formas organizativas; as formas do fazer, os sistemas de decisão, as relações de produção, o meio ambiente, a memória e visão de mundo. Ao serem interdependentes, os indicadores contribuem para enxergar a trama, o desenho, a identidade cultural de uma dada comunidade e propor a ação-intervenção. Com os resultados dos indicadores, cronogramas semestrais definidos, escalonamento de educadores e ideia de flexibilidade curricular (indicadores interferem nos conteúdos a serem trabalhados), as inserções se darão inicialmente aos sábados em locais previamente estabelecidos na própria comunidade.
Como o objetivo central é ativar o índice de potencial humano dos envolvidos, o espirito de liderança é valorizado para que não só os problemas de defasagens sejam sanados via processo de ensino e aprendizagem, como atinja o desenvolvimento pleno - soma de fatores cognitivos e socioemocionais para a construção do conceito de competência. Os objetivos específicos constituem-se em: 1) Resgatar a vivência de valores em família, visando como produto final a realização na prática das metodologias pedagógicas (oficinas de sabão, velas, máscaras, objetos sustentáveis, entre outras que com o mapeamento dos indicadores sociais serão delineadas), fazendo com que haja consumo e renda para a própria comunidade; 2) Superar os déficits em razão do contexto pandêmico de defasagem didático-pedagógica com a aplicação de metodologias ativas e participação familiar; 3) Avaliação diagnóstica das crianças envolvidas no projeto para só então relacionar de forma mais especifica os materiais de consumo, bem como a realidade dos familiares participantes via indicadores sociais para igualmente especificar os materiais de consumo.
Entre os resultados esperados elencamos: 1) Que as famílias sejam participantes da vida escolar das crianças, cientes que quanto maior o acompanhamento menor a defasagem de aprendizagem e mais o rendimento escolar; 2) Que o nível de hipótese de desenvolvimento de escrita e competência leitora das crianças cheguem ao nível alfabético e /ou ortográfico, gerando futuramente a garantia da formação profissional empregabilidade; 3) Valorização do docente como mediador de um processo de formação integral.
Experiência
As realizações em torno da temática selecionada estão vinculadas, ao período de ensino remoto emergencial e ensino hibrido que renderam algumas experiências como o Projeto interdisciplinar “Minhas Memórias da Pandemia”, da Profa. Luciana Mees, utilizando como elemento mobilizador (constitui um objeto do conhecimento que apresenta um desafio ao estudante), o livro “Carta aos meninos e às meninas em tempos de COVID-19”, confeccionado por alunos do EF anos iniciais e divulgado no Fórum Mineiro de Educação Infantil - pesquisa para a UFMG.
Plataforma planetária Google For Education como elemento mediador do processo de ensino remoto emergencial. Professores realizaram intervenções pelo classroom que contribuíram muito com o entendimento de conteúdo.
O Projeto Família das Virtudes tem a finalidade de promover vivência de valores numa conexão escola-família com aplicação de recursos didático-pedagógicos que dialogam com os dois livros de Selma Said “Meu coração perguntou I e II – o significado das virtudes”, com vistas a desenvolver uma cultura de prevenção capaz de enfrentar a abertura ao novo. Diante desse novo paradigma socioeducacional há um certo consenso que neste contexto de crise é primordial que a integração entre o educacional, o social e o psíquico seja algo fundamental para fazer parte do debate público e alvo de reflexões nas formações continuadas.
Público Alvo
Ao considerar as crianças de 1ºsAnos e 2ºsAnos das oito escolas de Educação Fundamental anos iniciais do Município de Agudos-SP, tem-se um contingente de cerca de 450 crianças e ao reverberar com as respectivas famílias (pelo menos pai, mãe e/responsável e um filho(a), ou seja, no mínimo 3 membros) 1350 familiares, num potencial de 1800 pessoas a serem assistidas. Quanto aos desafios estes recaem desde questões de pertencimento e autoestima a mobilizar lideranças nos diversos grupos para que a perspectiva de olhar para o potencial humano supere a de restringir o modo de ver vulnerabilidades socioculturais.
--Crianças em fase de alfabetização e letramento (a partir de 6 anos) matriculados nos 1ºs Anos e 2º Anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais do Município de Agudos-SP, incluindo os alunos público alvo da educação especial, começando pelas escolas do arrabalde.
--Formação de pais e/ou responsáveis das crianças envolvidas no projeto, uma vez que durante o ensino remoto emergencial e ensino híbrido verificou-se problemas de dificuldade de promover/negociar uma rotina, de acompanhamento deficitário pois inconstante e de devolutivas de atividades.